03/11/2012
-
04h30
Análise: Padre Marcelo busca catolicismo de massas, mas menos atento às questões sociais
Publicidade
RICARDO MARIANO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A guinada conservadora católica, o acelerado declínio numérico da filial
brasileira da Santa Sé e a avalanche pentecostal acirraram a competição
entre católicos e evangélicos a partir de 1980. Essa peleja deflagrou
uma disputa religiosa pelo espaço público e uma desenfreada ocupação
religiosa da mídia e da política partidária.
Desde então tele-evangelistas, padres-celebridades e cantores gospel
tornaram-se onipresentes na mídia eletrônica, emissoras de TV
pentecostais e católicas brotaram como cogumelos, rebanhos religiosos
viram-se tratados como currais eleitorais, igrejas passaram a formar
bancadas parlamentares, a expandir seu poder nos legislativos e a
controlar partidos, discursos moralistas reacionários de inspiração
bíblica tomaram de assalto as eleições.
Dia de Finados é transformado em festa em templo de padre Marcelo
Com 50 mil fiéis, padre Marcelo inaugura novo templo em São Paulo
Padre Marcelo diz estar 'em falta' com Haddad, que não vai à abertura
A ocupação religiosa do espaço público, sobretudo nas capitais e regiões
metropolitanas, tornou-se ainda mais monumental, mais espetacular e
mais triunfalista. Tudo para causar o maior impacto evangelístico, gerar
a maior visibilidade pública e revestir seus líderes e suas
organizações religiosas de maior poder, status e legitimidade.
Foi por isso que católicos, liderados por carismáticos e suas
comunidades, e neopentecostais, turbinados pela famigerada teologia da
prosperidade, trataram de investir pesado em megaeventos, megasshows,
megamarchas e megamissas e torrar fortunas na construção de imponentes
santuários e catedrais.
Não é à toa que a inauguração do maior templo católico da América Latina
ocorra nesse contexto de vigoroso ativismo religioso e de midiatização
da religião intensificado por uma concorrência inter-religiosa sem
precedentes na história nacional.
Autor do slogan "sou feliz porque sou católico" e líder religioso mais
popular do país, padre Marcelo Rossi foi o idealizador do Santuário
Theotokos "" Mãe de Deus. A fim de resgatar as ovelhas desgarradas do
rebanho e de impedir o "avanço das seitas", o sacerdote multimídia,
multitarefa e workaholic tem trabalhado, em ritmo toyotista anos a fio,
como cantor, ator, escritor, radialista e tele-evangelista, militado no
Twitter e no Facebook e, de quebra, acolhido romarias de políticos às
missas em busca da bênção nas urnas. Em reconhecimento a seus feitos, o
papa Bento 16 lhe deu o Prêmio Van Thuân, em 2010.
No novo santuário, Marcelo Rossi ocupará um palco muito maior e mais
reluzente para cantar seus louvores e baladas, coreografar a "aeróbica
do Senhor", receber celebridades, agitar, entreter e emocionar as
multidões de seguidores, benzer seus objetos pessoais e lançar-lhes
baldes de água benta ao fim de cada show-missa.
Assim ele vai contribuindo para configurar um catolicismo de massas
alegre, corpóreo, sensorial, emotivo, mágico, midiático, terapêutico,
taumatúrgico, moral e teologicamente conservador. Mais popular, mas
menos intelectualizado e menos atento aos problemas socioeconômicos.
RICARDO MARIANO, professor da PUC-RS, é autor de "Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil" (Loyola)
03/11/2012
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04h30
Análise: Padre Marcelo busca catolicismo de massas, mas menos atento às questões sociais
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RICARDO MARIANO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A guinada conservadora católica, o acelerado declínio numérico da filial
brasileira da Santa Sé e a avalanche pentecostal acirraram a competição
entre católicos e evangélicos a partir de 1980. Essa peleja deflagrou
uma disputa religiosa pelo espaço público e uma desenfreada ocupação
religiosa da mídia e da política partidária.
ESPECIAL PARA A FOLHA
Desde então tele-evangelistas, padres-celebridades e cantores gospel tornaram-se onipresentes na mídia eletrônica, emissoras de TV pentecostais e católicas brotaram como cogumelos, rebanhos religiosos viram-se tratados como currais eleitorais, igrejas passaram a formar bancadas parlamentares, a expandir seu poder nos legislativos e a controlar partidos, discursos moralistas reacionários de inspiração bíblica tomaram de assalto as eleições.
Dia de Finados é transformado em festa em templo de padre Marcelo
Com 50 mil fiéis, padre Marcelo inaugura novo templo em São Paulo
Padre Marcelo diz estar 'em falta' com Haddad, que não vai à abertura
A ocupação religiosa do espaço público, sobretudo nas capitais e regiões metropolitanas, tornou-se ainda mais monumental, mais espetacular e mais triunfalista. Tudo para causar o maior impacto evangelístico, gerar a maior visibilidade pública e revestir seus líderes e suas organizações religiosas de maior poder, status e legitimidade.
Foi por isso que católicos, liderados por carismáticos e suas comunidades, e neopentecostais, turbinados pela famigerada teologia da prosperidade, trataram de investir pesado em megaeventos, megasshows, megamarchas e megamissas e torrar fortunas na construção de imponentes santuários e catedrais.
Não é à toa que a inauguração do maior templo católico da América Latina ocorra nesse contexto de vigoroso ativismo religioso e de midiatização da religião intensificado por uma concorrência inter-religiosa sem precedentes na história nacional.
Autor do slogan "sou feliz porque sou católico" e líder religioso mais popular do país, padre Marcelo Rossi foi o idealizador do Santuário Theotokos "" Mãe de Deus. A fim de resgatar as ovelhas desgarradas do rebanho e de impedir o "avanço das seitas", o sacerdote multimídia, multitarefa e workaholic tem trabalhado, em ritmo toyotista anos a fio, como cantor, ator, escritor, radialista e tele-evangelista, militado no Twitter e no Facebook e, de quebra, acolhido romarias de políticos às missas em busca da bênção nas urnas. Em reconhecimento a seus feitos, o papa Bento 16 lhe deu o Prêmio Van Thuân, em 2010.
No novo santuário, Marcelo Rossi ocupará um palco muito maior e mais reluzente para cantar seus louvores e baladas, coreografar a "aeróbica do Senhor", receber celebridades, agitar, entreter e emocionar as multidões de seguidores, benzer seus objetos pessoais e lançar-lhes baldes de água benta ao fim de cada show-missa.
Assim ele vai contribuindo para configurar um catolicismo de massas alegre, corpóreo, sensorial, emotivo, mágico, midiático, terapêutico, taumatúrgico, moral e teologicamente conservador. Mais popular, mas menos intelectualizado e menos atento aos problemas socioeconômicos.
RICARDO MARIANO, professor da PUC-RS, é autor de "Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil" (Loyola)
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