Novo 'Catálogo da Terra inteira', Facebook faz das pessoas marqueteiros de si mesmos

Marion Strecker
De San Francisco, Califórnia
  • Paul Sakuma - 5.fev.2007/AP
    Mark Zuckerberg e suas sandálias de plástico Mark Zuckerberg e suas sandálias de plástico
A escravidão voluntária que multidões dos quatro cantos do planeta prestam ao Facebook está transformando o serviço numa espécie de catálogo da Terra inteira. Senão da Terra, ao menos dos terráqueos.
Cada brasileiro com acesso à internet gastou em média 7 horas, 50 minutos e 26 segundos no Facebook em abril passado. Nenhum outro site consome tanto tempo do público brasileiro quanto o Facebook, que lidera esse ranking desde agosto de 2011. 78,5% dos que usam a internet no país usam também o Facebook.
Nem era preciso consultar o Ibope. Basta ficar no Facebook certo tempo para saber quão viciante o serviço pode ser, trazendo de volta pessoas do passado, abrindo contato com parentes desconhecidos, novos contatos, transformando seres humanos que riem e que choram em seres humanos que quase apenas riem, porque se tornaram marqueteiros de si mesmos.
O Facebook é o serviço em que as pessoas fazem broadcast de suas vidas, ou ao menos da parte que interessa divulgar. Muitos se iludem achando que é uma boa forma de manter o contato com amigos e familiares, para quem sabe um dia descobrir que aquele contato superficial, à base de textos curtos e fotos escolhidas a dedo, pode esconder a possível ausência de um relacionamento inteiro, verdadeiro e de carne e osso. Afinal, o dia continua a ter apenas 24 horas.
Sejamos honestos. Será que você realmente sabe o que está se passando com pessoas que importam para você ao restringir seu contato com elas ao Facebook?

Catálogo
“Catálogo da Terra Inteira”(ou “Whole Earth Catalog”) é o nome de um almanaque idealista e ambicioso dos anos 60 que surgiu exatamente na mesma cidade que hoje sedia o Facebook na Califórnia: Menlo Park.
O catálogo foi publicado regularmente entre 1968 e 1972. Ainda está disponível na Internet, em PDF, no Twitter e em outras versões. Veja aqui.
Steve Jobs era um fã ardoroso, chamava de uma das bíblias da sua geração e chegou a defini-lo como “um tipo de Google” de 35 anos atrás, num discurso que deu na vizinha universidade Stanford em 2005.
“Nós somos deuses e é melhor nos acostumarmos com isso”, escreveu Stewart Brand na abertura do primeiro número, em 1968. Em plena contracultura, enquanto os hippies cultuavam abstrações nas vizinhanças, Stewart Brand levantou a bandeira de que dar poder às pessoas era dar a elas conhecimento, especialmente técnico e prático. Bem no espírito americano do “faça você mesmo“.
Ainda na abertura da primeira edição, Stewart Brand questiona os ganhos reais obtidos pela sociedade via sistema político, grandes empresas, educação formal e Igreja. Defende devolver o poder ao indivíduo, para que este conduza sua própria educação, encontre sua própria inspiração, moldada pelo seu ambiente, para depois dividir sua aventura com quem se interessar. “Ferramentas que ajudem esse processo são buscadas e promovidas pelo Catálogo da Terra Inteira”, anunciou.
Foi Stewart Brand quem persuadiu a Nasa a liberar a primeira foto do planeta Terra. Aquela memorável bola de mármore azul se tornou a capa do catálogo. E Stewart ainda está na ativa, pensando grande e longe, fazendo maluquices como o Relógio do Longo Agora, que está sendo construindo num lugar remoto do Texas para funcionar por pelo menos 10 mil anos, medindo anos, séculos e milênios em vez de medir horas, minutos e segundos.
Há uma fundação e um museu chamados The Long Now, em San Francisco, Califórnia, com maquetes e protótipos.
Enquanto não sabemos qual será o longo agora do Facebook, é bom lembrar que Stewart, ali na mesma Menlo Park, ajudou a definir o mundo do compartilhamento da informação e do trabalho colaborativo como conhecemos hoje com a internet.
Assim como Mark Zuckerberg, com seu moletom de capuz e suas sandálias de plástico de natação, ajudou a modificar o mundo da comunicação.

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Foto 2 de 16 - Mark Zuckerberg
De acordo com o documento de formalização pedido para abertura de capital, Mark Zuckerberg terá salário de US$ 1 por ano a partir de 2013. Seu salário-base em 2011 era de US$ 500 mil. Em compensação, ele é o maior acionista da empresa com 28,4% da companhia. Por ser o maior acionista, ele também terá poder de veto nas futuras reuniões de conselhos Mais Kimberly White/Reuters

Comentários 49

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  1. Avatar de GustavoM.

    GustavoM.

    30 minutos atrás
    Análise muito superficial. Ao sugerir, na manchete, que o Facebook tornou as pessoas marqueteiras de si próprias, ignorou o fato de que ele é, na verdade, apenas uma ferramenta que tornou isso possível. Há certas pessoas que ainda têm "receios" do que a Internet fez às pessoas. Está aí para quem quiser ver: a Internet é uma lupa que amplia aquilo que ficava restrito aos grupinhos sociais. É só isso. Ela não modificou as pessoas, apenas trouxe à tona anseios e vontades que sempre estiveram lá, mas nunca ninguém viu (ou quis ver).
  2. Avatar de OGBR

    OGBR

    43 minutos atrás
    Faço parte de uma minoria que ignora o Facebook, simplesmente não tenho. Já tive Orkut e não achei graça (conheço o Facebook). Todos dizem que o Facebook é diferente, vc consegue restringir os acessos, etc... Mas todos sabemos que se trata da mesma coisa que o Orkut (coloque sua fotinha, faça um comentário, convide seus amiguinhos aaafffffff) Ou prefere tapar o sol com peneira? Meus amigos de verdade vejo sempre que posso, e quando a saudade aperta o telefone aproxima!
  3. Avatar de ARTISTA-SP

    ARTISTA-SP

    1 hora atrás
    As pessoas se "bobificam" com essas ferramentas como orkut e facebook, colocando seus dados pessoais, fotos, preferências, abrindo chance para qualquer tipo de meliante ou bandido dar o bote. Elas não pensam que estão se expondo mais do que deveriam. Contudo que se exponham tanto, bem fala a matéria que o relacionamento carne-osso, cara a cara, se restringe bastante. Depois o povo reclama de solidão, depressão, angústia, etc. Nada melhor que pegar um telefone e dizer "Oi Fulano, como vai?" Na internet a gente tem que ter sempre o desconfiômetro ligadaço. Não uso facebook porque não quero ser uma pessoa a mais "controlada" ou vigiada direta ou indiretamente por outros quesitos que convém não mencionar.
  4. Avatar de Paulo SAB

    Paulo SAB

    1 hora atrás
    O Facebook é, sem dúvidas, um site de exposição pessoal. Afinal, faz parte do ser humano se mostrar e gostar de ser notado. Porém, o difícil é arcar com as situações da exposição. Todos querem "aparecer" de alguma forma, apresentando algo que lhes interessa: dinheiro, espiritualidade, graça e muitas outras coisas para, às vezes, melhorar e projetar uma imagem que o torne atraente para os outros.
  5. Avatar de Evelyna- Krause

    Evelyna- Krause

    1 hora atrás
    Não tenho Facebook e nem pretendo ter...Como diz a matéria, as pessoas ficam se exibindo e apenas o que querem mostrar e ficam olhando a vida dos outros...Me recuso a participar dessa espécie de circo...Prezo muito a minha privacidade, me recuso a exibir a minha vida para quase estranhos...Por exemplo, tenho uma colega de trabalho que era pobre e agora é casada e mora em uma cobertura com piscina, e claro exibe as fotos para todos verem e exibe a sua suposta ascensão social...Mas, todo mundo sabe que o marido é o maior enrolado na praça...trambiqueiro mesmo...Então n passa tudo de uma grande mentira e ilusão???
  6. Avatar de Alexandre José

    Alexandre José

    1 hora atrás
    Eu acho que isto, como foi também o orkut e o myspace, é um momento. As pessoas abusam destas coisas dentro de algum tempo, e acabam sempre migrando para uma outra novidade. Eu não compraria ações do facebook hoje.

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