Lula projeta chapa com Haddad e Marta para Prefeitura de SP
Volta da ex-prefeita ao PT está praticamente descartada e ela mantém conversas com PDT e Solidariedade
5 dez 2019
11h29
atualizado às 11h56
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT vão trabalhar por uma chapa para a Prefeitura de São Paulo liderada pelo ex-prefeito Fernando Haddad e com a ex-prefeita Marta Suplicy
como vice. Sem partido desde que deixou o MDB em agosto do ano passado,
Marta tem dito a interlocutores que o retorno dela ao PT está
praticamente descartado devido às resistências de setores da sigla.
Com isso, o PT espera que Lula pressione Haddad a entrar na disputa e
que a ex-prefeita se filie a outro partido de centro-esquerda. Duas
legendas estão conversando com Marta: o PDT e o Solidariedade. No
primeiro caso o ex-presidenciável Ciro Gomes se opõe à ideia da
dobradinha.
O maior entrave para a concretização da chapa, no entanto, é a
resistência de Haddad a disputar a prefeitura pela terceira vez. O
ex-prefeito está irredutível. Ele tem alegado que, ao contrário de
outros políticos, depende do emprego de professor no Insper para pagar
suas despesas e que disputar a terceira eleição em apenas seis anos é um
fardo muito pesado.
Além disso, Haddad avalia que a esquerda vai ter poucas chances na
eleição do ano que vem. Segundo ele, a tendência é que a disputa fique
entre um candidato da extrema direita, apoiado pelo presidente Jair
Bolsonaro, e outro de centro-direita.
De acordo com pessoas próximas, Haddad se irrita diante de especulações
de que ele deseja se preservar para a disputa de 2022 e já chegou a
sugerir registrar um documento em cartório se comprometendo a não ser
candidato a presidente para estancar a boataria.
Petistas, no entanto, acreditam no poder de persuasão de Lula. O
ex-presidente tirou alguns dias de férias e volta a São Paulo neste
final de semana. Na agenda de Lula estão pedidos de reuniões com as
bancadas municipal e estadual do PT para tratar de 2020.
Nestas conversas, Lula vai ouvir apelos pela candidatura de Haddad.
Desde o início do ano, o PT, com o aval do ex-presidente, vem procurando
um nome. O primeiro foi o de Haddad, que declinou. Depois vieram
Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardozo, que também recusaram.
Alexandre Padilha se colocou à disposição, mas sem entusiasmo. O maior
interessado é o ex-deputado Jilmar Tatto, mas a baixa votação dele na
eleição para senador no ano passado desanima os petistas.
O partido teme que, sem um nome forte, pode ser engolido à esquerda
pela possível chapa Guilherme Boulos/Luiza Erundina (ambos do PSOL) e ao
centro pelo ex-governador Márcio França (PSB), que também corteja Marta
para vice. Tatto é outro também que quer Marta como vice e deve
procurar Lula para pedir o apoio do ex-presidente a seu projeto
eleitoral, que conta com a simpatia de Haddad.
Nos bastidores, pessoas próximas a Marta acreditam que Haddad pode
deixar a Prefeitura em 2022 para disputar o Palácio do Planalto, o que
abriria caminho para que ela voltasse a comandar a cidade que governou
entre 2001 e 2004. Procurada, Marta não quis comentar.
Em conversas com interlocutores, porém, a ex-prefeita e ex-ministra
admite ser vice de Haddad em nome da construção de uma frente ampla para
combater o bolsonarismo na capital. Esse projeto seria um laboratório
para a disputa presidencial de 2022. Marta e Lula ainda não conversaram
sobre a proposta de dobradinha. A ex-ministra ouviu de dirigentes, no
entanto, que seria viável construir a chapa mesmo com ela em outro
partido.
De volta aos eventos
Depois de um período de reclusão após deixar o Senado e o MDB, Marta
Suplicy voltou a frequentar eventos com políticos e se aproximou de
quadros da esquerda. Na última terça-feira ela foi à festa de
aniversário do sociólogo Fernando Guimarães em uma choperia em Pinheiros
onde confraternizou com França e Boulos. Também estavam presentes ao
evento dirigentes do PDT, além de integrantes do PT e da Rede.
Na semana passada, Marta participou do jantar de final de ano do grupo
Prerrogativas, que reuniu mais de 300 advogados e lideranças de
centro-esquerda em uma churrascaria, em São Paulo. Na ocasião ela disse
que a criação de uma frente para se contrapor à extrema direita
representada pelo governo Jair Bolsonaro passa pelas eleições de 2020 e
ela está em uma "situação privilegiada" por não almejar cargos.
Além dela, estavam no encontro França, o ex-deputado Gabriel Chalita
(que também está sem partido), Haddad; o deputado Marcelo Freixo (PSOL),
pré-candidato à prefeitura do Rio; o presidente do PSOL, Juliano
Medeiros, e vários parlamentares como o deputado Rui Falcão (PT-SP).
Marta e Falcão, que foi homem forte na gestão da ex-prefeita, se
cumprimentaram gentilmente depois de muitos anos de rompimento político.
Em setembro a ex-prefeita esteve ao lado de integrantes de 16 partidos
políticos e representantes da sociedade civil no evento "Direitos Já!"
Fórum pela Democracia, no Teatro da Universidade Católica de São Paulo
(PUC). Sua presença nestes eventos é vista como uma reaproximação. Marta
deixou o PT em 2015 atirando contra os escândalos de corrupção
envolvendo o partido e votou pelo impeachment de Dilma Rousseff no ano
seguinte.
Quando Marta e Haddad trabalharam juntos
Ela e Haddad se conhecem há muito tempo. O primeiro cargo público de
Haddad foi o de subsecretário municipal de Finanças na gestão de Marta.
Além disso, ambos foram ministros nos governos Lula e Dilma. Na eleição
de 2016, Marta, candidata pelo MDB, fez críticas à gestão do petista na
prefeitura. Já Haddad, em 2018, citava marcas do governo Marta como os
CEUs e o Bilhete Único como realizações do PT em eventos da campanha
presidencial na periferia de São Paulo.
Depois dos acenos da ex-senadora à esquerda e dos afagos de Lula, que
em entrevistas disse que Marta foi a melhor prefeita que São Paulo já
teve, Haddad se tornou um dos entusiastas da volta dela para o PT.
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